sexta-feira, 25 de julho de 2014

Sobre Estrelas Perdidas

Doces são as noites. Reservam os sonhos mais belos do mundo, enquanto o sono tranquilo e profundo, inebriam a mente cansada daqueles que, como eu, tendem a passar os dias pensando sem pensar, agindo sem agir, de modo a querer sem saber como, quando, ou o quê, de modo a desejar, simplesmente.

Doce é o sorriso da menina linda e distante, miragem insólita e maravilhosa, que avisto de onde permaneço, quieto e calmo, com meu cigarro por enrolar, barba por barbear e sempre certo, de que estou no melhor lugar, aquele, onde permaneço. Onde não confundo os tais sonhos mais belos do mundo, e sim, os vivencio em plenitude, lugar perfeito, morada do futuro imenso e da manhã que se mostra de repente. 

Surpreendentemente, a noite.

À deriva flutuam seus braços, pés e pernas, seu cabelo escuro e sua solidão, que não me dói. Perdida em uma noite como qualquer outra, mas infinitamente diferente das noites comuns, passeia com suas mãos pela água e sorri de encontro a mim, ilha deserta. Mostra os dentes, mostra um coração enorme, mostra por entre as frestas de sua existência, toda a beleza necessária para fazer brilhar a mesma noite que a devora. E como devora, lentamente, véu de tudo que possa vir a ser. 

A noite é uma porta por se abrir, com maçaneta e tudo. Uma porta por se abrir junto às dores do mundo. Pois o mundo não é feito somente dos mais belos sonhos. O mundo é um caminho absolutamente inédito à frente. É um salto, junto ao infinito das coisas. Mesmo que pequenas coisas. Como a minha mesa repleta de migalhas de tabaco, como meus olhos vertendo em lágrimas, como aquela música linda das estrelas perdidas. A beleza da vida é também encontrar-se, mesmo que à deriva.

Há quem diga que não exista saída. Há também aqueles que preferem acreditar que para todo e qualquer corpo flutuante, distante, como manda o figurino, existe uma maré cheia, um balanço de ondas e uma beira de praia. Existe sempre um lugar para se chegar. Um lugar, onde podemos nos encontrar.

Eu, você, o cigarro já enrolado e a barba por fazer - graças ao meu péssimo dom para a lâmina - e ela. 

A noite. O luar. O começo de tudo e o fim do começo.