segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Carta Aberta Para Um Coração Partido

Sim, definitivamente sim. Sim para tudo e para todos. Nem sempre somos capazes de aproveitar a possibilidade de dizer essa palavrinha mágica, mas deveríamos, sempre que tivermos uma oportunidade. Sim meu amor, definitivamente sim.

Sim, que você jamais desfrute de um raciocínio contrário. Sim, você estará certa ao pensar que as palavras que virão são algo muito maior que simples necessidades de um relacionamento sério. Sim, a toalha de renda na mesa é uma maravilha! Sim, o ventilador ajuda muito nas noites de muito calor. Sim, a escova de dente azul me deixa muito seguro em relação à frequência de vezes em que me esqueço da necessaire.

Sim, definitivamente sim. Sim às bitucas de cigarro e às ressacas de amor e ódio. Sim aos dias azuis e sim aos dias cinzentos. Sim à comida sem sal e ao queijo gorgonzola. Sim ao pastel de papas! Sim às garrafinhas de água, sim às almofadinhas coloridas esparramadas à beira da cama. Sim para todas as calcinhas penduradas no box. Sim, para a cortina de peixinhos do box. Sim, ao box, como um todo.

Sim aos pernilongos, sim aos malditos pernilongos! Sim, definitivamente sim. Sim à loratadina, neosoro e a vida como ela é. Sim à loucura de viver, simplesmente. Sim ao dormir, sim ao despertar. Sim a cada palavra sussurrada no ouvido. Sim a cada centímetro de pele que arrepia ao deslizar dos dedos. Sim ao toque. Sim ao toque pleno. Sim, meu amor, dos cabelos às pontas dos pés.

Sim, definitivamente sim, à rouquidão de Joaquín Sabina e aos escritos, de Orwell até Pondé. Sim aos moleskines, às canetas de pontas finas, aos devaneios sempre ininterruptos. Sim. Ininterruptos, graças ao nosso bom Deus. Sim, aos filmes de amor, às músicas de amor, aos poemas de amor e a todos os post-its-mensagens-de-amor-matinais que eu puder contemplar nas manhãs de sábado, ou domingo.
 
Sim, definitivamente sim. Sim ao amor verdadeiro, aos beijos na boca, ao sexo praticado em perfeita sintonia. Sim aos olhares, às sensações, aos pequenos detalhes. Sim aos telefonemas, às esperas, aos passeios de mãos dadas pelas madrugadas. Sim aos dias sem mãos dadas, sim à distância e sim à saudade, que aperta, não mata e fortalece.

Sim, definitivamente sim. Sim às lágrimas decorrentes das confusões do dia a dia. Sim à sinceridade de sermos quem somos. Sim às diferenças, de crença, cultura e posicionamentos políticos. Sim ao amor sem fronteiras.  Sim à garrafa de Fernet, aos sorrisos, aos banhos de chuva. Sim ao reconhecimento, de ser você quem é, e dentro de mim, ser alguém tão forte e irretocável. Sim. Essencial.

Sim ao tempo dispendido a preencher cada linha desse documento em branco. Sim, está ficando tarde. Sim, amanhã preciso começar o dia cedo. Sim, já deveria estar roncando há muito tempo. Mas... não.

Não estou nem aí! Estou é pouco me fodendo ou preocupado com isso. Sim, à casa do caralho e às predisposições amorosas ao invés do sono!

Boa noite meu amor.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Contextual

Tenho pouquíssimas coisas para dizer. Nada de relevante ou incrível. Minhas palavras comem o silêncio vagarosamente, apetite forte, sou um rapaz de frases perdidas que cismam, não sei muito bem porquê, ir atrás do teu ouvido. Necessidade pura e petulante.

Ela guarda em si todas as intempéries possíveis, as dores do mundo, o grito que rompe a noite, as horas desperdiçadas junto ao caos das pequenas grandes coisas do dia a dia. Ela fala em situações intensas, terríveis sinais de ser quem é. Terríveis sinais de ser...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Sobre Desencontros

Eu perco horas, perco dias, perco semanas e meses inteiros. Eu perco anos da minha vida, perco todas as oportunidades que batem à minha porta. Eu perco tempo, perco a hora, perco as datas de todos os aniversários. Perco as chaves, perco a cabeça, perco o caminho de casa. Perco a vez, perco os sentidos. Perco o controle, o chão e o freio. Perco a fome, o sono, perco as estribeiras.

Eu perco a fé, perco peso, perco os fios do cabelo. Perco a inocência, perco a milésima caneta. Perco o guarda-chuva, perco o medo, perco o fio da meada. Perco a paciência. Eu perco o jogo, perco feio, e perco também o senso de realidade. Perco o show do Noel Gallagher. Perco as forças, perco as esperanças. Perco o juízo, perco a conta. Perco o ônibus, perco o emprego. Inclusive, eu perco até o isqueiro...

Mas você eu não perco. 

Em você eu me perco. E isso soa mais que suficiente.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Quando Bate, Bate

Tem coisas que nem o velho psicanalha poderia explicar, não é mesmo? Mas, a bem da verdade, tentar não custa nada. Então, Freud, explica para mim, vou tentar arrancar de você apenas essa ínfima reflexão, explica Freud, por quê o amor é tão bonito e tão filho da puta ao mesmo tempo? Freud, seu bom e velho sacana, explica para mim, por quê o amor é assim?

Eu nunca entendo como as coisas são, se são da forma que deveriam ser, se são e somente são ou se não são nada além daquilo que poderiam ter sido, daquilo que são, ou serão, quem sabe um dia. Explica Freud. Começando por esse parágrafo. Vamos lá! Fala comigo seu psicalado, muito quieto para o meu gosto!

Por quê diabos a gente sente os pêlos do corpo arrepiarem do calcanhar até o pescoço? Explica o por quê da falta, quando tudo parece tão cheio; será apenas outro dentre tantos outros devaneios? Nada como um bom papo com o grande psicaolho que não enxerga mais do que um palmo à sua frente. Eu simplesmente esperava muito mais de você, querido Freud. 

Explica para mim, quem é que determina quando, onde e por quê duas pessoas devem se encontrar, acima do céu ou abaixo das estrelas, no meio de um caminho para qualquer lugar, ao fim de uma noite de virada, quando tudo o que se espera é finalmente dar início ao calendário guardado atrás da porta? Freud, Freud, psicansado de ouvir minhas críticas e minhas dúvidas sobre o amor nosso de todos os dias. 

Entendo. Penso eu ser um ser incompreensível demais para as suas psicanálises cotidianas? Não, talvez seja simples ao extremo para o seu repertório, diz aí, psicamarada, amigo da onça! Não, não. O amor não pode ser somente um intervalo que separa o último dia do ano e o primeiro risco no mês de janeiro. Coração é porta entreaberta e amor é malandro, quando bate, bate, mas quando quer não bate, entra mesmo sem convite e se esparrama pelo sofá da sala. 

E por falar em sofá... não precisa mais querer tentar me explicar. Amor é de tudo um pouco e de muito pouco dele se compreende.

Francamente... Ok. Quanto eu lhe devo?



sexta-feira, 25 de julho de 2014

Sobre Estrelas Perdidas

Doces são as noites. Reservam os sonhos mais belos do mundo, enquanto o sono tranquilo e profundo, inebriam a mente cansada daqueles que, como eu, tendem a passar os dias pensando sem pensar, agindo sem agir, de modo a querer sem saber como, quando, ou o quê, de modo a desejar, simplesmente.

Doce é o sorriso da menina linda e distante, miragem insólita e maravilhosa, que avisto de onde permaneço, quieto e calmo, com meu cigarro por enrolar, barba por barbear e sempre certo, de que estou no melhor lugar, aquele, onde permaneço. Onde não confundo os tais sonhos mais belos do mundo, e sim, os vivencio em plenitude, lugar perfeito, morada do futuro imenso e da manhã que se mostra de repente. 

Surpreendentemente, a noite.

À deriva flutuam seus braços, pés e pernas, seu cabelo escuro e sua solidão, que não me dói. Perdida em uma noite como qualquer outra, mas infinitamente diferente das noites comuns, passeia com suas mãos pela água e sorri de encontro a mim, ilha deserta. Mostra os dentes, mostra um coração enorme, mostra por entre as frestas de sua existência, toda a beleza necessária para fazer brilhar a mesma noite que a devora. E como devora, lentamente, véu de tudo que possa vir a ser. 

A noite é uma porta por se abrir, com maçaneta e tudo. Uma porta por se abrir junto às dores do mundo. Pois o mundo não é feito somente dos mais belos sonhos. O mundo é um caminho absolutamente inédito à frente. É um salto, junto ao infinito das coisas. Mesmo que pequenas coisas. Como a minha mesa repleta de migalhas de tabaco, como meus olhos vertendo em lágrimas, como aquela música linda das estrelas perdidas. A beleza da vida é também encontrar-se, mesmo que à deriva.

Há quem diga que não exista saída. Há também aqueles que preferem acreditar que para todo e qualquer corpo flutuante, distante, como manda o figurino, existe uma maré cheia, um balanço de ondas e uma beira de praia. Existe sempre um lugar para se chegar. Um lugar, onde podemos nos encontrar.

Eu, você, o cigarro já enrolado e a barba por fazer - graças ao meu péssimo dom para a lâmina - e ela. 

A noite. O luar. O começo de tudo e o fim do começo.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Eu Escreveria Um Livro Sobre Isso

Tenho medo do que posso vir a escrever nas linhas que estão por vir. Medo mesmo, pavor, das possíveis palavras que poderão vir a brotar dessa página em branco. Tenho medo do branco. Para falar a verdade, morro de medo de páginas em branco. É como desfrutar de um salto no vazio absoluto. Tenho medo do vazio. E do absoluto também. Mas acima de tudo, medo de preenchê-las com qualquer coisa. 

Ok. Melhor parar por aqui. Não, go on!

Como se vê, medroso. Com um puta medo de que um dia as estrelas se apaguem, medo de engolir água pelo nariz. Medo de ser triste. Ou feliz, em demasia. Medo de sexo tântrico, medo de unhas encravadas. Um puta medo, não medo de putas. As putas ainda não me deram motivos para sentir medo. Mas sim, medo de pole dance. Medo de quem faz o tal do pole dance. Medo de quem faz o pole dance e depois compra novalgina na farmácia. Medo de pessoas normais demais.

Medo de ir no mercado de manhã. Medo de mamilos grandes. Medo de altura e de fogões com acendedores de bocas automáticos. Medo de flores coloridas demais, medo de dias cinzas e noites úmidas. Pavor, de calcinhas penduradas no box. Medo de quem as penduram. Nada contra pendurar calcinhas em todos os cantos possíveis. O medo é de dar de cara com elas sem aviso prévio ou preparo psicológico.

Medo de refrigerantes dietéticos, medo de estereótipos. Medo de pessoas que falam essa palavra e nem sequer fazem ideia do seu real significado. Medo de rodovias interestaduais. Medo de filiais do capeta e inferninhos da vida. Medo de açúcar impalpável. Medo não, pavor, de açúcar impalpável e caramelo. Medo, medo, medo de caramelo.

Medo da Barbra Streisand, e das músicas da Barbra Streisand. Muito medo por ela não se chamar Bárbara. Seria muito mais simples se ela fosse uma Bárbara Streisand. Mas não, ela é Streisand. E eu tenho um medo bem sincero em relação a isso. Medo de propaganda eleitoral gratuita, medo de propaganda eleitoral no geral. Medo total de impulsos persuasivos. Medo de pastores alemães.

Medo de estar indo longe demais com isso. Medo de não fazer qualquer sentido. Medo de aliviar a barra da página vazia. Do branco e do vácuo. Medo danado dessa turma. Medo por terem voltado para me aterrorizar justo no último parágrafo. Medo de que este seja, de fato, o último parágrafo. Medo de parar de escrever.

De uma vez por todas. O medo é psicológico. E eu cago de medo de terapia.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Beijo

O garoto com as mãos cobertas de tinta fresca estava ali, compenetrado, com seus olhos de garoto mirrado, observando sem muito saber. Havia de estar cobrindo uma parede, ou alguma tela, com seus sonhos infantis e coloridos, mas acabou deixando tudo de lado para chegar um pouco mais perto.

O vendedor de doces estava ali, com sua carrocinha repleta de delícias e gostosuras, amparada por duas rodas de aros tortos e precariamente encaixados. Sem muita sofisticação, era apenas um vendedor de doces e sua carrocinha, ganhando a vida com muita dignidade e açúcar. Não julgo este pobre homem por lucrar diante de um punhado de outros seres absortos. A barriga ronca e o justo é o justo.

A senhora gorda, o lacaio descalço, a mocinha dos olhos fixos e firmes; eles também estavam ali. 

O advogado recém formado, suando bicas sob o escaldante sol do meio dia, trazendo uma porção de casos desgovernados em sua pasta, estava ali e negociava com o vendedor de doces um singelo desconto nos pedaços de bolo. Estava ali por acaso, prestes a iniciar o expediente, matando a fome junto à dignidade achocolatada.

Novamente, não procuro julgar de maneira alguma o vendedor de doces e sua carrocinha. É como vender guarda-chuvas ao cair das primeiras gotículas. Justo. Dá-se um jeito de fazer seu ganhapão adaptando-se ao contexto e isso é muito digno. Digno e justo.

O moço da banca de jornal, o fumante sentado, a criança inocente, junto de seus dois irmãozinhos e seus pais e talvez tios, a faxineira da vassoura de microgalhos de bambu, os dois entregadores de frutas e verduras da quitanda, os transeuntes desqualificados e sem qualquer referência, todos, de uma maneira lúdica ou não - para a imaginação do leitor - estavam exatamente ali.

Exatamente ali. Diante de nós.

Exatamente ali. Diante do beijo.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Zabriskie Point

Surto psicótico em Zabriskie Point
nem Bukowski, nem o bom Bukowski
seria capaz de compreender 
tamanha deselegância 

Um maço pela metade
porque o preço que se paga pelo vício 
é a preguiça impregnada 
e as bitucas;

Um filme de sacanagem tosco
com gemidos falsos, muito diferente 
de como aprendemos 
no jardim de infância

Tarde da noite em grande estilo;
Uma punheta psicodélica... para lavar a alma 
junto à fumaça...