Quando falta uma perna,
complica-se o caminhar. Mas para isso existem as muletas, as bengalas, as próteses
de última geração. Dificulta, mas não impossibilita. Limita e muito, mas não
impede, por assim dizer, um possível passeio qualquer.
Quando falta um braço,
complica-se o abraço. E aí é difícil. Como não poder entrelaçar-se com outro
par de braços? A coisa tende pro lado do absurdo. Não, não deve ser fácil
conviver com tal deficiência. Mas para isso existem os outros braços, que num
lapso de amor infinito, abraçam de
qualquer maneira e fazem parecer nula a falta do membro em questão.
Quando a falta é fruto de uma
dúvida "falta de quê?", complica-se o raciocínio lógico. Óbvio. Um
buraco imenso, perdido em algum lugar do peito. Isso não é coisa boa. Não dá
para jogar duas pás de areia e achar que tudo está devidamente preenchido. O
vazio do peito é estranho. Sensação de perda sem perder, de não ter, mesmo que
se tenha. O vazio no peito é um grande filho da puta, um grande inconseqüente.