sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Nós, Que Nos Amamos

As gotas de chuva não causam muito espanto. Era de se esperar que caíssem, em algum momento. Talvez não tão de manhã, não tão facilmente, insistentemente, sobre os cabelos, escorrendo pela testa, encharcando a pele e o agasalho sobre os ombros. Guarda-chuva fechado, sorriso aberto. Não dá para explicar o que sente um coração quando, finalmente, encontra um bom motivo, algo que realmente faça sentido e justifique seus batimentos.

Os anos passados aglutinaram - com todo o cuidado possível - sentimentos nunca antes expostos; frases, versos, páginas e mais páginas de amor, jamais lidas; verdades inteiras, intensas, penetrantes, chocantes; estardalhaço completo e imutável; direto no queixo, nocaute impressionante e inesperado. Caminhos paralelamente distantes, paralelamente próximos, caminhos opostos e iguais, caminhos.

Um olhar à mesa do café, um simples e ligeiro flerte em silêncio; mãos dadas, junto aos passos pelas ruas de pedra; palavras, palavras, palavras; aromas que se alteram com ou sem adição de especiarias; bocas procuram distância, autocontrole, menos de vinte por cento; cinco sentidos afiadíssimos, como manda o figurino - encharcado pela chuva, teimosa que só. Agora, menos de cinco por cento, situação beirando o impossível, ou o possível, a depender do ponto de vista.

Querer, poder, dever. Onde é que tais resoluções se encaixam? Bem me quer; mal me quer; bem me quer, mas não pode; mal me quer, mas não deve; bem me quer, pode, mas não deve; mal me quer, não pode e não deve; bem me quer, pode e deve; bem me quer, pode e deve! Um abraço resolve tudo. Braços entrelaçados por instantes inigualáveis, incomparáveis, inacreditáveis. Porra, lindíssimo!

Para onde vão quando as pálpebras descansam? Onde é que se encontram? Onde é que dançam e dançam e dançam? O acaso, amigo, teria respostas para tão singela indagação? Para onde vão, quando perdem a razão? Onde, enfim, seus caminhos se cruzam? No apagar das luzes? Nos braços ternos do mundo mágico dos sonhos? No véu da noite? Em uma perspectiva completamente nova, que surge por detrás das montanhas cinzentas de um dia desprovido de sol? Interrogação;