de onde vem? - Compreendendo
o Incompreensível - Primeira Parte
Aqui estou eu, novamente, prestes
a escrever outro punhado de palavras aleatórias, pensando na possível
dramaticidade das mesmas e nas questões que poderei - ou não - ensejar a quem
vier a ler este mais que provável – além de estudo - desabafo noturno.
Creio que, ao menos uma vez na
vida, todos já se depararam com o fator inspiração e suas inexatas
proveniências. Afinal, de onde vem a chama? De onde surge tudo o que é criado?
Será que todo ser criativo é somente criativo, ou será que todo ser criativo, além
da alcunha, é abastecido de alguma fonte inesgotável e misteriosa, de ideias e
devaneios irretocáveis? Não pode ser só o cigarro, o uísque e as noites mal
dormidas!
Venho levantando, desde o último
escrito publicado, algumas hipóteses que embasem, de alguma forma, a existência
de uma força criativa superiora. Sim, eu acredito cada vez mais no poder das
musas e em toda a sua influência no processo inventivo de quem parte do zero e
tinge de cor a uma tela em branco.
Uma pessoa? Uma sensação? Um
legado para as gerações futuras? Livre expressão? Ou apenas o desejo relativo
ao reconhecimento? O que desencadeia as ações que levam alguém a criar algo?
São inúmeras as questões, pontos e mais pontos de interrogação, espalhados ao
redor de cada milímetro desenvolvido. Não me canso de buscar sentido para tudo
o que agora escrevo, tendo em vista o fato de que, como disse anteriormente,
tal escrito não passa de um punhado de palavras aleatórias.
Minha investigação percorre todas
as linhas lidas em jornais, livros, revistas e publicações virtuais. Porém, por
mais inesperado que possa ser o que direi em sequência, me perturba a
possibilidade de perder tempo buscando retorno em vias históricas. Percebam,
talvez tais necessidades não sejam simplesmente compreensíveis, enquanto
baseadas em relatos dos mais diversos e, o mais importante, já escritos. Minhas
indagações tendem para aquilo que ainda não fora concebido. Talvez as tantas
respostas que procuro residam em lapsos de futuras ações, perspectivas, e isso
é para mim, um sinal muito claro de que, independente do quanto eu me force a
entender mais e mais cada fagulha de criatividade, jamais será possível definir
sua origem, detalhar sua fonte e, por mais óbvia que pareça, por mais
interligada ao tema sugerido, nunca será possível traçar um paralelo e enfim,
descortinar qualquer sentido.
Penduro na conta do amor, na
conta das cinzas de cigarro acumuladas. Penduro na conta das noites em claro,
na conta dos copos vazios. Sempre surge uma boa desculpa para um texto qualquer,
uma boa dose de porquês e poréns para satisfazer as dúvidas alheias.
O que me incomoda é não ter
absoluta certeza, de que tudo isso só é possível graças à minha cabeça. Será
que meus neurônios são tão sensíveis e poéticos assim? Não, não são. Nada é em
vão, nem beira a beira do acaso. Se escrevo, acredito, que escrevo para alguém,
mesmo que esse alguém não saiba da existência de meus versos e, além, mesmo que
esse alguém não faça ideia de quem seja o seu eterno remetente. Escrevo, mesmo
que esse alguém, simplesmente não exista.
E aí é que está uma das dúvidas
mais frequentes. Como é possível destinar algo a alguém que não faz parte da
minha vida? Como posso criar por criar? Como posso, eu, escrever um texto de
amor para um coração desconhecido? De aleatórias já bastam as palavras. Não
consigo, enfiar na minha cabeça essa ideia de escrita sujeita às incertezas do
acaso. Escrita randômica? Como? Se a produção não é feita em larga escala (!?)
Não vivo das teclas que bato. Não escrevo por grana. Não desenvolvo meu
raciocínio para atender a um briefing ou uma encomenda. Não penso nessas tantas
frases como simples forma de cumprimento a uma - indeterminada, para não dizer
inexistente - demanda.
Parto sempre de um lampejo. Nem
sempre muito claro, mas, às vezes incrivelmente óbvio e completo. Desejo;
vontade nua e crua? Escrever, apenas?
e se o caso, dentre o acaso,
for... ela? - Pensando Hipoteticamente - Segunda Parte
Era de se esperar que, em algum
momento da minha vida, eu iria me deparar com alguma situação em que fosse
possível reconhecer os meus estímulos, por assim dizer, em um par de olhos, em
um nariz, em uma boca; em um rosto. Daí descende a ideia da musa inspiradora,
aquela capaz de afrouxar as sendas que materializam a arte, em sua magnitude.
Não é de hoje que acendo meu
cigarro e me ponho a escrever sobre qualquer sentimento. Anos e anos se
passaram desde o primeiro verso de amor, desde a primeira centelha poética.
Tenho ciência de que, dentre tudo que já escrevi, muito fora escrito sem nenhuma
predisposição afetiva, sem nenhum vínculo com algo concreto ou alguém. Daí
advém a minha preocupação com os porquês supracitados. São textos e mais textos
de paixões jamais vividas, fictícias, como vislumbres de relações
inconscientes, déjà-vus consumados em folhas e mais folhas de papel.
Mas, para quem? Não consigo
pensar na possibilidade de escrever sequer um verso, somente por sentir vontade
de escrevê-lo. E se o caso, dentre o acaso, for ela? E se tudo tiver,
realmente, além do eterno remetente, uma destinatária? Para quem escrevo? Para
quem dedico tudo aquilo que sinto?
As interrogações - princípio de
tudo aquilo que escrevi até aqui - me levam a inúmeros panoramas. Sei que pode
parecer um tanto estranho refletir a respeito de tais estímulos como algo
físico e palpável, porém, não vejo mal algum em descer ao plano dos meros
mortais, a minha fonte inspiração ininterrupta, minha Deusa.
Desde que me conheço por
escritor, destino meus textos a mulheres, conhecidas por mim ou não. Há aquelas
que compartilharam de um pedacinho de vida em conjunto; aquelas que
compartilham; aquelas que foram retratadas à distância e, portanto, desconhecem
o conteúdo direcionado às mesmas. E existem também aquelas às quais desconheço,
ou aquela, partindo do
pressuposto de que há de ser apenas uma.
Engraçado é pensar nisso não como
possibilidade, mas como fato. E se a musa fosse real? E se a musa estacionasse o carro, e caminhasse em
sua direção? E se a musa sorrisse e você perdess a noção da realidade? E se a musa olhasse fixamente em seus olhos, como se pudesse enxergar sua alma? E se a musa mastigasse um sanduíche sem pressa? Ou se banhasse na
chuva de uma manhã qualquer? Qual? Qual seria sua reação? No quê você pensaria?
O quê você diria? O que você faria, se a defrontasse, caso - no seu
caso - o acaso também fosse musa?
Sim. Ela existe. Mesmo que, para
mim, isso tenha sido esclarecido tardiamente. Não que seja tarde, muito pelo
contrário, digo que só pude fazer as vezes de agraciado e contemplador de tal
assimilação após muito tempo. Sim. Ela existe. E mexe demais com os meus
sentidos, muito mais do que faz com meus sentimentos, à flor da pele.
Ela tem olhos tão penetrantes
quanto abridores de rolhas de vinhos refinadíssimos. Sua boca imanta a minha,
mesmo que em presságio. Nossos lábios jamais desfrutaram um beijo, nossos dias
e noites ainda não vieram a ser, o que existe entre nós é um emaranhado de
interrogações aos cuidados do destino.
Não que exista alguma certeza
quanto a tudo que escrevi - ter sido ou não - escrito para ela. Sei apenas que
muito do que pensei viver um dia ao seu lado, de uma forma ou de outra, se
tornou crônica, poesia ou qualquer coisa parecida. Seria um erro da minha parte
afirmar o contrário; sim, e como não? Já diziam os gregos, em sua mitologia, que uma musa não se contraria. Nenhuma delas, mesmo que para muitos, as mesmas ainda sejam, somente, desconhecidas.
Nietzsche tivera em Salomé a sua
figura de musa. John Lennon em Yoko. Dante em Beatriz. Da Vinci em Monalisa e
assim por diante, dentre tantas outras. Não procuro comparar, afinal, musas são
musas e dentro desse mérito, são únicas e estabelecidas. Divindades em carne,
mulheres, capazes de originar, partindo do efeito ocasionado em seus
admiradores, criações em esferas diversas, em contextos diversos, para o bem
daqueles que, assim como eu, partilham do gosto por algum fragmento artístico.
Não é de se espantar que as
palavras aleatórias tenham chegado até aqui. Esse é o efeito ocasionado em mim.
Não penso, somente; não sinto, apenas. Transbordo. Talvez seja esse o sentido
de tudo o que vivifico em meus escritos. Ela acalma meu peito, me dá caneta e
se faz papel. Próxima a todo instante, distante ao mesmo tempo. Ela sabe que
existo, sabe que escrevo, sabe que a tenho, em meus pensamentos, assim como a
tenho em meu peito. Ela sabe que esse sujeito, a perpetua, toda vez que inicia
um punhado de aleatoriedades a seu respeito. É muito óbvio. Óbvio até demais.
Penso na experiência com muito
cuidado e carinho. Não é habitual pensar em tais estímulos da forma como venho
pensando ultimamente. Carne e osso? Como posso ser capaz de classificar a
inspiração dessa maneira? Não sei, não faço a menor ideia. Uma flor não pode
ser composta de carne e osso, com licença! Sim! Com devida licença poética, ora! Pode sim, e deve! Minha
flor é de carne e osso. E tem olhos da cor da noite. Minha musa é a própria
noite. Minha flor é visível ao escurecer. Minha escuridão é cada segundo
distante. Meu amor é forte e tem fé. Outro texto, de amor obstante, para não
fugir à regra daqueles que amam; verdadeiros amantes, perseverantes,
pacientes e inspiradores, como
não poderiam deixar de ser.