sábado, 23 de novembro de 2013

O Que Falta Em Mim

Quando falta uma perna, complica-se o caminhar. Mas para isso existem as muletas, as bengalas, as próteses de última geração. Dificulta, mas não impossibilita. Limita e muito, mas não impede, por assim dizer, um possível passeio qualquer.

Quando falta um braço, complica-se o abraço. E aí é difícil. Como não poder entrelaçar-se com outro par de braços? A coisa tende pro lado do absurdo. Não, não deve ser fácil conviver com tal deficiência. Mas para isso existem os outros braços, que num lapso de amor infinito,  abraçam de qualquer maneira e fazem parecer nula a falta do membro em questão.

Quando a falta é fruto de uma dúvida "falta de quê?", complica-se o raciocínio lógico. Óbvio. Um buraco imenso, perdido em algum lugar do peito. Isso não é coisa boa. Não dá para jogar duas pás de areia e achar que tudo está devidamente preenchido. O vazio do peito é estranho. Sensação de perda sem perder, de não ter, mesmo que se tenha. O vazio no peito é um grande filho da puta, um grande inconseqüente.

E como resolver? O quê fazer? Como proceder? Talvez o vazio do peito seja apenas a falta de algo maravilhoso em mim. Nesse caso, você.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Estudo Repentino dos Estímulos (Inspirações) e Suas Possíveis (e Impossíveis) Consequências Para Um Projeto de Escritor em Crise Existencial

de onde vem? - Compreendendo o Incompreensível  - Primeira Parte

Aqui estou eu, novamente, prestes a escrever outro punhado de palavras aleatórias, pensando na possível dramaticidade das mesmas e nas questões que poderei - ou não - ensejar a quem vier a ler este mais que provável – além de estudo - desabafo noturno.

Creio que, ao menos uma vez na vida, todos já se depararam com o fator inspiração e suas inexatas proveniências. Afinal, de onde vem a chama? De onde surge tudo o que é criado? Será que todo ser criativo é somente criativo, ou será que todo ser criativo, além da alcunha, é abastecido de alguma fonte inesgotável e misteriosa, de ideias e devaneios irretocáveis? Não pode ser só o cigarro, o uísque e as noites mal dormidas!

Venho levantando, desde o último escrito publicado, algumas hipóteses que embasem, de alguma forma, a existência de uma força criativa superiora. Sim, eu acredito cada vez mais no poder das musas e em toda a sua influência no processo inventivo de quem parte do zero e tinge de cor a uma tela em branco.

Uma pessoa? Uma sensação? Um legado para as gerações futuras? Livre expressão? Ou apenas o desejo relativo ao reconhecimento? O que desencadeia as ações que levam alguém a criar algo? São inúmeras as questões, pontos e mais pontos de interrogação, espalhados ao redor de cada milímetro desenvolvido. Não me canso de buscar sentido para tudo o que agora escrevo, tendo em vista o fato de que, como disse anteriormente, tal escrito não passa de um punhado de palavras aleatórias.  

Minha investigação percorre todas as linhas lidas em jornais, livros, revistas e publicações virtuais. Porém, por mais inesperado que possa ser o que direi em sequência, me perturba a possibilidade de perder tempo buscando retorno em vias históricas. Percebam, talvez tais necessidades não sejam simplesmente compreensíveis, enquanto baseadas em relatos dos mais diversos e, o mais importante, já escritos. Minhas indagações tendem para aquilo que ainda não fora concebido. Talvez as tantas respostas que procuro residam em lapsos de futuras ações, perspectivas, e isso é para mim, um sinal muito claro de que, independente do quanto eu me force a entender mais e mais cada fagulha de criatividade, jamais será possível definir sua origem, detalhar sua fonte e, por mais óbvia que pareça, por mais interligada ao tema sugerido, nunca será possível traçar um paralelo e enfim, descortinar qualquer sentido.

Penduro na conta do amor, na conta das cinzas de cigarro acumuladas. Penduro na conta das noites em claro, na conta dos copos vazios. Sempre surge uma boa desculpa para um texto qualquer, uma boa dose de porquês e poréns para satisfazer as dúvidas alheias. 

O que me incomoda é não ter absoluta certeza, de que tudo isso só é possível graças à minha cabeça. Será que meus neurônios são tão sensíveis e poéticos assim? Não, não são. Nada é em vão, nem beira a beira do acaso. Se escrevo, acredito, que escrevo para alguém, mesmo que esse alguém não saiba da existência de meus versos e, além, mesmo que esse alguém não faça ideia de quem seja o seu eterno remetente. Escrevo, mesmo que esse alguém, simplesmente não exista.

E aí é que está uma das dúvidas mais frequentes. Como é possível destinar algo a alguém que não faz parte da minha vida? Como posso criar por criar? Como posso, eu, escrever um texto de amor para um coração desconhecido? De aleatórias já bastam as palavras. Não consigo, enfiar na minha cabeça essa ideia de escrita sujeita às incertezas do acaso. Escrita randômica? Como? Se a produção não é feita em larga escala (!?) Não vivo das teclas que bato. Não escrevo por grana. Não desenvolvo meu raciocínio para atender a um briefing ou uma encomenda. Não penso nessas tantas frases como simples forma de cumprimento a uma - indeterminada, para não dizer inexistente - demanda.

Parto sempre de um lampejo. Nem sempre muito claro, mas, às vezes incrivelmente óbvio e completo. Desejo; vontade nua e crua? Escrever, apenas?

e se o caso, dentre o acaso, for... ela? - Pensando Hipoteticamente - Segunda Parte

Era de se esperar que, em algum momento da minha vida, eu iria me deparar com alguma situação em que fosse possível reconhecer os meus estímulos, por assim dizer, em um par de olhos, em um nariz, em uma boca; em um rosto. Daí descende a ideia da musa inspiradora, aquela capaz de afrouxar as sendas que materializam a arte, em sua magnitude.

Não é de hoje que acendo meu cigarro e me ponho a escrever sobre qualquer sentimento. Anos e anos se passaram desde o primeiro verso de amor, desde a primeira centelha poética. Tenho ciência de que, dentre tudo que já escrevi, muito fora escrito sem nenhuma predisposição afetiva, sem nenhum vínculo com algo concreto ou alguém. Daí advém a minha preocupação com os porquês supracitados. São textos e mais textos de paixões jamais vividas, fictícias, como vislumbres de relações inconscientes, déjà-vus consumados em folhas e mais folhas de papel.

Mas, para quem? Não consigo pensar na possibilidade de escrever sequer um verso, somente por sentir vontade de escrevê-lo. E se o caso, dentre o acaso, for ela? E se tudo tiver, realmente, além do eterno remetente, uma destinatária? Para quem escrevo? Para quem dedico tudo aquilo que sinto?

As interrogações - princípio de tudo aquilo que escrevi até aqui - me levam a inúmeros panoramas. Sei que pode parecer um tanto estranho refletir a respeito de tais estímulos como algo físico e palpável, porém, não vejo mal algum em descer ao plano dos meros mortais, a minha fonte inspiração ininterrupta, minha Deusa.

Desde que me conheço por escritor, destino meus textos a mulheres, conhecidas por mim ou não. Há aquelas que compartilharam de um pedacinho de vida em conjunto; aquelas que compartilham; aquelas que foram retratadas à distância e, portanto, desconhecem o conteúdo direcionado às mesmas. E existem também aquelas às quais desconheço, ou aquela, partindo do pressuposto de que há de ser apenas uma.

Engraçado é pensar nisso não como possibilidade, mas como fato. E se a musa fosse real? E se a musa estacionasse o carro, e caminhasse em sua direção? E se a musa sorrisse e você perdess a noção da realidade? E se a musa olhasse fixamente em seus olhos, como se pudesse enxergar sua alma? E se a musa mastigasse um sanduíche sem pressa? Ou se banhasse na chuva de uma manhã qualquer? Qual? Qual seria sua reação? No quê você pensaria? O quê você diria? O que você faria, se a defrontasse, caso - no seu caso - o acaso também fosse musa?

Sim. Ela existe. Mesmo que, para mim, isso tenha sido esclarecido tardiamente. Não que seja tarde, muito pelo contrário, digo que só pude fazer as vezes de agraciado e contemplador de tal assimilação após muito tempo. Sim. Ela existe. E mexe demais com os meus sentidos, muito mais do que faz com meus sentimentos, à flor da pele.

Ela tem olhos tão penetrantes quanto abridores de rolhas de vinhos refinadíssimos. Sua boca imanta a minha, mesmo que em presságio. Nossos lábios jamais desfrutaram um beijo, nossos dias e noites ainda não vieram a ser, o que existe entre nós é um emaranhado de interrogações aos cuidados do destino.

Não que exista alguma certeza quanto a tudo que escrevi - ter sido ou não - escrito para ela. Sei apenas que muito do que pensei viver um dia ao seu lado, de uma forma ou de outra, se tornou crônica, poesia ou qualquer coisa parecida. Seria um erro da minha parte afirmar o contrário; sim, e como não? Já diziam os gregos, em sua mitologia, que uma musa não se contraria. Nenhuma delas, mesmo que para muitos, as mesmas ainda sejam, somente, desconhecidas.

Nietzsche tivera em Salomé a sua figura de musa. John Lennon em Yoko. Dante em Beatriz. Da Vinci em Monalisa e assim por diante, dentre tantas outras. Não procuro comparar, afinal, musas são musas e dentro desse mérito, são únicas e estabelecidas. Divindades em carne, mulheres, capazes de originar, partindo do efeito ocasionado em seus admiradores, criações em esferas diversas, em contextos diversos, para o bem daqueles que, assim como eu, partilham do gosto por algum fragmento artístico.

Não é de se espantar que as palavras aleatórias tenham chegado até aqui. Esse é o efeito ocasionado em mim. Não penso, somente; não sinto, apenas. Transbordo. Talvez seja esse o sentido de tudo o que vivifico em meus escritos. Ela acalma meu peito, me dá caneta e se faz papel. Próxima a todo instante, distante ao mesmo tempo. Ela sabe que existo, sabe que escrevo, sabe que a tenho, em meus pensamentos, assim como a tenho em meu peito. Ela sabe que esse sujeito, a perpetua, toda vez que inicia um punhado de aleatoriedades a seu respeito. É muito óbvio. Óbvio até demais.

Penso na experiência com muito cuidado e carinho. Não é habitual pensar em tais estímulos da forma como venho pensando ultimamente. Carne e osso? Como posso ser capaz de classificar a inspiração dessa maneira? Não sei, não faço a menor ideia. Uma flor não pode ser composta de carne e osso, com licença! Sim! Com devida licença poética, ora! Pode sim, e deve! Minha flor é de carne e osso. E tem olhos da cor da noite. Minha musa é a própria noite. Minha flor é visível ao escurecer. Minha escuridão é cada segundo distante. Meu amor é forte e tem fé. Outro texto, de amor obstante, para não fugir à regra daqueles que amam; verdadeiros amantes, perseverantes, pacientes e inspiradores, como não poderiam deixar de ser.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Nós, Que Nos Amamos

As gotas de chuva não causam muito espanto. Era de se esperar que caíssem, em algum momento. Talvez não tão de manhã, não tão facilmente, insistentemente, sobre os cabelos, escorrendo pela testa, encharcando a pele e o agasalho sobre os ombros. Guarda-chuva fechado, sorriso aberto. Não dá para explicar o que sente um coração quando, finalmente, encontra um bom motivo, algo que realmente faça sentido e justifique seus batimentos.

Os anos passados aglutinaram - com todo o cuidado possível - sentimentos nunca antes expostos; frases, versos, páginas e mais páginas de amor, jamais lidas; verdades inteiras, intensas, penetrantes, chocantes; estardalhaço completo e imutável; direto no queixo, nocaute impressionante e inesperado. Caminhos paralelamente distantes, paralelamente próximos, caminhos opostos e iguais, caminhos.

Um olhar à mesa do café, um simples e ligeiro flerte em silêncio; mãos dadas, junto aos passos pelas ruas de pedra; palavras, palavras, palavras; aromas que se alteram com ou sem adição de especiarias; bocas procuram distância, autocontrole, menos de vinte por cento; cinco sentidos afiadíssimos, como manda o figurino - encharcado pela chuva, teimosa que só. Agora, menos de cinco por cento, situação beirando o impossível, ou o possível, a depender do ponto de vista.

Querer, poder, dever. Onde é que tais resoluções se encaixam? Bem me quer; mal me quer; bem me quer, mas não pode; mal me quer, mas não deve; bem me quer, pode, mas não deve; mal me quer, não pode e não deve; bem me quer, pode e deve; bem me quer, pode e deve! Um abraço resolve tudo. Braços entrelaçados por instantes inigualáveis, incomparáveis, inacreditáveis. Porra, lindíssimo!

Para onde vão quando as pálpebras descansam? Onde é que se encontram? Onde é que dançam e dançam e dançam? O acaso, amigo, teria respostas para tão singela indagação? Para onde vão, quando perdem a razão? Onde, enfim, seus caminhos se cruzam? No apagar das luzes? Nos braços ternos do mundo mágico dos sonhos? No véu da noite? Em uma perspectiva completamente nova, que surge por detrás das montanhas cinzentas de um dia desprovido de sol? Interrogação;