domingo, 27 de janeiro de 2013

Toneladas

Aos vinte e cinco, por mais que não pense nisso a todo momento, me pego numa circunstância um tanto quanto inusitada. Estou livre, para viver tudo o que a vida puder me oferecer. Desimpedido, desvinculado, sem maiores compromissos. Amarras não mais existem, posso trilhar o rumo que quiser e me adaptar, às mais diversas realidades.

Meu coração voltou a bater com entusiasmo, como há muito não se via. Dele, faço o que quero, dou para quem julgar necessário, e não me privo de nada que possa acelerá-lo ainda mais. Fortes emoções. O mundo me chama para amar com urgência cada detalhe de seu vasto repertório.

Hora penso ser jovem demais para pensar nessas coisas, hora penso estar envelhecendo rapidamente e, por conta disso, penso, de fato, em todas essas enormes viagens. Claro, pois sem elas não seria capaz de classificar a mim mesmo como habitante desse todo, ao qual pertenço.

Navegar é preciso. Naufragar ou não são possíveis consequências. E como não tenho ciência de nada que não seja passado ou presente, aceno positivamente a tudo o que há por vir. Preocupações não fazem parte do menu, previsões tampouco. A graça reside na surpresa, no inesperado, em tudo aquilo que ocorre de maneira natural, para não dizer sobrenatural.

As oportunidades começam a bater em minha porta. Uma completamente diferente da outra, caminhos diversos, aos quais amo por igual, aos quais vislumbro algum tipo de retorno, e, por conseguinte, sucesso. Aproveitar o momento, manter o foco e seguir adiante. Filosofia plenamente aceitável e praticável. Como um mantra, cantado à exaustão.

Assim como Pessoa, tenho em mim, todos os sonhos do mundo. E sei que, por mais que não ostentem qualquer quilograma, os mesmos podem pesar incríveis toneladas. E esse é o preço a se pagar, o fardo a se carregar, para quem se vê na condição de persegui-los, até alcançá-los, definitivamente.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Futuros Amantes

Sono interrompido, de ímpeto, por uma imensa vontade de escrever. Sobre ela, sobre os lábios dela, sobre os olhos dela, sobre a pele e os cabelos dela, sobre suas pernas, sobre seu corpo, sobre a delícia de seus beijos, sobre seus abraços, sobre sua voz, sobre seus olhares misteriosamente penetrantes...

E nada, nada mais é como antes. E nada, nada mais faz sentido, exceto este deslize, esta falta de controle, este despertar literário mais que bem-vindo. Uma coisa é levantar em plena madrugada para falar de política, das dores do mundo, dos erros alheios, outra, completamente diferente e incrivelmente prazerosa é levantar, em meio à escuridão das três horas, para falar sobre ela.

Não temo represálias, não tenho papas na língua. Falo o que penso e quando penso em falar, já disse. Ela sabe o quanto cerceia meus pensamentos, sabe como se faz presente em meus sonhos, sabe como e quanto a degusto, em goles absolutamente curtos. Ela sabe que ressaca de amor não se cura com aspirina, ou melhor, ressaca de amor não se cura, e é assim, desde que o amor descobriu-se sentimento.

Meu cigarro é cúmplice, de cada bater de tecla, de cada nova ideia, e de todos os segundos gastos em frente à tela deste computador. Tarde da noite, luzes apagadas, vizinhos dormindo, cidade se preparando para dar início aos trabalhos costumeiros. E eu aqui, escrevendo. Será que disso ela sabe? Se não tiver certeza, há de pelo menos imaginar, pois boba eu sei que ela não é.

Não tenho facilidade para voltar a dormir. E daí? Não estou nem aí para isso. Posso simplesmente passar o resto do dia de pé, sabido que sonho com a sua pessoa ainda acordado. Olhos fechados e pronto, estou diante de tudo aquilo que preciso, sem mais. A beleza de um amor como este reside nas eternas possibilidades de uma imaginação fértil.

Lembranças boas. As melhores, das pouquíssimas noites às quais nos amamos sob as estrelas. Amanhã é outro dia, outro possível despertar, assim, de repente. Amanhã é hoje, posto que após meia-noite se calcula outro dia.

O que houver de ser, será. Será? Espero que sim. E também espero, presente do indicativo, ansiosamente, por um pouco mais. Futuros deslizes, futuras lembranças, futuras noites estreladas, para que o nada continue não sendo mais como antes, futuros sussurros, futuros suspiros, futuros amantes.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Do Amor

Sinceramente, nada mais me surpreende. Quando penso ter vivido o suficiente para julgar-me bom entendedor, vem o tal do amor, roubar minha brisa, baixar minha crista e dizer palavras doces como um gole de cachaça pura.

Loucura, loucura, loucura. Capaz de metamorfosear corações de pedra em areia. Derreter as mais incríveis geleiras, converter fogo em água e santo em pecador. Isso apenas para se ter uma ideia de seu poderio ofensivo, maluco que só, ao qual tornamo-nos submissos, mesmo que nossos atos sugiram, em determinados casos, o contrário.

Misto de medo, ansiedade, vontade absurda. Braços abertos para um montão de dúvidas. Porque o amor não explica, o amor não faz média, o amor não está nem aí para ninguém. Fica para trás quem tenta, mesmo que superficialmente, compreendê-lo. Tarefa árdua e pouco recompensadora. Como disse, amor não é forma, não tem fórmula e não provém de cálculos aritméticos.

O amor é irônico, conciso e hermético. O amor é platônico, jônico, aristotélico. O amor sou eu, você e todo os que nos cercam. O amor é isso. Um beijo doce sem compromisso, um calar de boca ao tocar dos lábios, que simplesmente se completam. Desejo natural. Inconfundível e incomparável.

Admirável, essa é a palavra que melhor define tal sentimento. É preciso ser corajoso o suficiente para senti-lo de fato, ou melhor, vivenciá-lo, em sua plenitude. Missão quase impossível, para esse monte de gente rude, os  falsos amantes, pseudo-diamantes, que brilham mas não reluzem.

O amor é um precipício. Um abismo profundo. Um saco sem fundo, buraco negro. Ao qual é preciso ser astronauta para ir além. Mais do mesmo. Falar de amor é como chover no molhado, começa assim e termina assado.

Mas jamais irei considerar-me cansado. Do amor, não me arrependo. Do amor, não me resguardo. Do amor, não me exilo, e amor é o que eu exalo. Como um tiro certo de espingarda, oriunda de sei lá onde, do amor não espero mais nada.

Cara à tapa e um peito crivado de bala.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jantar a Dois

Não me considero nem de longe caloteiro. Meu histórico acena positivamente com a fama de bom pagador. Posso cometer certos deslizes, vez em quando. Questão de atraso, má fé jamais. Melhor atrasar do que deixar de pagar. Um bom economista, talvez, defenderia minha teoria. Talvez. Melhor pensar que sim.

Também não me considero nem de longe, desta vez, um bom atendedor de telefone. Basta ouvi-lo tocar para ignorar completamente sua presença, seu ruído ameaçador, e seja lá quem for do outro lado da linha. Mas que tamanha ingenuidade a minha.

Não pude escapar. Sozinho em casa, não havia outra alternativa senão ir de encontro aos meus preguiçosos princípios  e atender o dito cujo. Surpreendentemente, ouço uma voz agradável o suficiente para manter-me conectado por algum tempo. Sim. Outra ligação cobrando meus milhares de centavos atrasados.

Prometo a transferência, assim como o envio de seu comprovante. Nos dias de hoje, basta enviá-lo por e-mail e pronto, fim de papo, caloteiro deixa de ser caloteiro e passa a ser uma pessoa qualquer. Melhor ser um qualquer, nesse caso. Como disse anteriormente, não sou desses que negam uma dívida até que a mesma se torne lenda.

Prestes a desligar, porém, para a minha surpresa, me vejo numa situação completamente nova. Quem me cobrava até poucos minutos atrás, agora, me convida para um jantar. Um jantar a dois. Sob os meus cuidados e meus possíveis dotes culinários. Qualquer pessoa poderia simplesmente recusar, tomar o convite como mera brincadeira e possivelmente dizer até logo.

Eu não. Há algo dentro de mim incrivelmente capaz de fazer-me aceitar tais propostas. Não resisto, do outro lado existe alguém de uma criatividade imensa. Não espero por coisas do tipo, e acho que isso foi fator preponderante para dizer sim.

Na minha casa ou na sua? Óbvio que na minha. Um bom chef de cozinha conhece bem seus aparatos e melhor do que ninguém, os prazeres que um bom prato pode proporcionar. E se para um bom entendedor, meia palavra basta, para um mal pagador, finalmente, saí no lucro.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sex On The Beach

Tudo bem que a receita original leva vodka ao invés de licor, porém, em determinadas situações, isso é um detalhe que se torna meramente irrelevante. Duas doses de cointreau mais suco de laranja e licor de pêssego. Groselha para decorar e acentuar o dégradé desde o fundo do copo.

Hemingway não beberia, sabido que é grande apreciador de um bom e velho mojito, porém, faria deles as minhas subseqüentes palavras. O velho sabia dar valor aos encantos de uma bela mulher.

Copos cheios, goles curtos, a noite é apenas uma criança.

Gotas de chuva misturam-se aos drinques. Aposto um dedo que alguém observa meus movimentos. Cabelo molhado, desengonçado, revirado à exaustão. Não busco causar qualquer boa impressão. Simplesmente não nasci para dividi-lo ao meio.

Copos pela metade, goles curtos, presságio de sequência.

A água cessa sua queda por alguns instantes. Não há mais obstáculos que nos impeçam de seguir adiante. Passos calculados pelas ruas de pedra, qualquer deslize pode ocasionar uma tragédia sem precedentes. Derrubar o conteúdo de nossos copos pelo chão, um total desperdício.

Copos novamente cheios e olhares que encontram-se...

Para nunca mais se separar. Teus olhos, duas pedrinhas de jade, dançando para lá e para cá, buscando no idílio da noite,  o meu, o nosso, olhar. Há quem diga que exista, de certa forma, um tal de amor à primeira vista. Prefiro crer na possibilidade de ser algo muito próximo à grandeza de tal sentimento, mesmo que, porém, tardio.  

Copos novamente ao meio, e olhares que despedem-se.

A noite, criança que é, brinca conosco, nos faz de bobo, e simplesmente pede passagem. Hora de ir embora. Cada um para um lado, como jovens adolescentes ao fim de uma matinê. Se aos treze anos a gente não compreende muito bem a realidade das coisas, aos vinte e cinco tudo parece ser ainda mais complexo.

Hoje eu quero saideira. Pois espero por muitas outras noites em que esta, possa, de alguma maneira, jamais ser solicitada. Noites inteiras, todas possíveis, manhãs de amor e saideiras de sono pesado, corpos colados, aos quais somente imagino e espero, tão ansioso quanto ao drinque que parece ainda nem ter dado sinal de escapar da garrafa.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Treze Anos

Começo com um clichê, para posteriormente contradizê-lo. Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite. Todo mundo menos eu. Tem jeito não, sou assim e vou morrer assim, cheio de poucas expectativas. Para não dizer nenhuma.

Não procuro satisfações em meras camas clandestinas, não compreendo tal facilidade masculina. Vivo em busca de algo muito maior. Arrepios, sussurros, suspiros, aquele frio na barriga que só um amor inimaginável pode proporcionar.

Amor de poucos encontros, muita prosa e alguma porção de sorrisos. Amor engraçado, escondido, no cantinho da quina da esquina, para ninguém interferir. Amor de estacionamento, de porta de carro.

Amor de repente, alucinante. Como um flash, que dispara e congela qualquer fração de segundo. Amor veloz e estranhamente marcante.

Impossível esquecer aqueles olhos. Impossível esquecer aquela boca. O calor de um corpo colado no outro, corpos repletos de estrelas. Estrelas pulsantes. Estrelas de um carimbo de uma noitada qualquer. Espalhadas por todos os cantos.

Não me rendo, posto que tal amor é somente fagulha. Mas incendeio meus pensamentos a todo momento, quando paro e relembro, cada instante ao lado daquela que me fizera encarcerado.

Olhos verdes, arrebatadores. Um par deles. Como algemas, forjadas da seiva de um pé de desejo. Vontade louca de arrancar sua boca numa só mordida. Num só beijo. Coisas de moleque, coisas desses encontros às escondidas. 

Coisas da cabeça de um menino bobo, que da noite pro dia retornou aos treze anos e reaprendeu a gostar de alguém absolutamente de graça.

Amor gratuito. O melhor deles. Gostar por gostar, sem esperar algo em troca. Outro beijo e somente. Por hoje é suficiente. Como digo, costumeiramente, não espero muito de um sábado à noite, raríssimas exceções.

E domingo de manhã sou só lembranças...