Primeiro foi o meu amor. Alegando motivos inadiáveis e inaudíveis
ao primeiro contato com meus ouvidos. Juntou suas coisas, deu-me um beijo
demorado, um abraço apertado, desceu as escadas com pressa e bateu a porta com
uma firmeza invejável.
Na seqüência, partiram juntos o brilho nos olhos e a alegria de viver.
Foram embora sem mais nem menos. Deixaram-me à mercê. Tudo bem, não tenho
capacidade de manter ninguém ao meu lado. Aprendi cedo a ser sozinho no mundo.
Pobre diabo...
Pensei não poder perder nada mais. Ledo engano, ingenuidade, perdi
minha identidade, meu senso, meu físico, minha verdade. Percebi não estar
diante de mim defronte ao espelho. Quem é você? Perguntei-me diversas e
diversas vezes.
Digo perguntei-me. Pois já não pergunto-me mais.
Agora quem se vai é o cigarro. Vício antigo, prazer diário. Objeto
tragável, fez-me refém por anos e, por mais que quisesse permanecer, desta vez,
fora minha a iniciativa de abandoná-lo. Tchau amigo. Vá queimar em outras
bocas. Vá rolar em outros bueiros. Vá feder em outros dedos...
Estou diante de uma nova oportunidade. Não sou cobra, talvez por isso
tenha adquirido um novo par de asas. Voar, voar. O céu é o limite. Longe daqui,
longe de tudo. Vícios agora fazem parte de um passado não muito distante. É o
tal do desapego.
Não vou mais lamentar. Não há razões pertinentes para isso. Vou
comemorar, estou vivo, estou pronto. Preparado para tudo, temendo nada. Quero
um gole a mais de vida, um trago de felicidade, algumas piteiras no cinzeiro,
eu quero amar de verdade, não procuro adversidade, eu quero mais, eu quero
muito mais.