É bom saber que existe o lado de fora. Lugar onde habita o inesperado,
o quem sabe, lugar magnífico, paraíso dos sonhos. Nada pode ser mais incerto e
curioso que o lado de fora.
Abro minha janela, observo a vida que se apresenta, os raios de sol radiantes
e ansiosos por minha pele pálida. Uma cidade inteira que amanhece junto a mim e
desfila seu contingente com o passar das horas. Negando a lógica de Nelson
Rodrigues, não, não há qualquer hipótese que justifique ser solitário em São
Paulo.
Todas as cores possíveis, subdividias em composições mais abstratas
que um quadro de Kandinsky. Lindo. A selva de pedra nunca pareceu tão natural.
Flores. Ando vendo flores por toda a cidade. Simplesmente abro os
olhos e as vejo. Formas singulares, beleza sem igual, cada qual em sua
maravilhosa individualidade, coexistindo perfeitas, uma completando a beleza da
outra.
E como são belas as flores da minha vida. Capto seus movimentos
milimétricos e as contemplo em danças circulares, junto ao acaso do vento, que
sopra.
Pétala que surge, manhã de inverno. Vou do inferno ao céu em questão
de segundos. Enfim, a mais bonita delas desabrocha. Sim. Desabrocha e me
tira pra dançar. Mesmo sem saber, deixo o corpo ir, a mente se perder... de
olhos fechados, junto com você...