sábado, 23 de junho de 2012

O Entregador de Pizza na Cúpula do Rio +20

Eis que chega o entregador de pizza - sujeitinho estranho, meio metro de altura, cofrinho de fora - com duas caixas na sua mochila quadrada.

- Foi daqui que pediram pizza? Indagou, rabugento que só.

Alguns jovens do movimento anti fios de cobre o fitaram por alguns instantes e logo responderam à pergunta do rapaz.

- Foi daqui sim! Uma de alumínio e outra de nanotubos de carbono.

- Tá certo não! Nem alumínio nem nanocarbonos, não trouxe nenhuma dessas duas. Respondeu encabulado.

- Pois bem. Acredito que o pedido fora feito para outra pizzaria. Fique tranqüilo, iremos aguardar, portanto.

O entregador continuou procurando, levantou as mãos, acenou, botou pra cima a mochila quadrada, até avistar um outro grupo que se mostrou.

- É a pizza? Perguntou, um dos representantes do movimento em prol das sacolinhas biodegradáveis.

- É a pizza sim.

- Uma de ecobag e outra metade lona, metade papel?

- Hum, não. Acho que vocês pediram em outro lugar, eu não trouxe nenhuma pizza disso aí que vocês estão dizendo.

- Ok. Então a gente espera!

O local abarrotado de gente oferecia pouca ajuda ao entregador, que perseverante, seguiu em busca dos sócios majoritários das pizzas que trazia consigo. Perto de um stand desses, o rapaz se surpreendeu com uma legião de peitos incrivelmente visíveis, balançando bem à sua frente. Nunca vira antes uma marcha de perto. Alguns instantes depois, braços erguidos, chamando-o finalmente.

- Ô da pizza, tava demorando hein? Se esse negócio estiver gelado eu não pago! Disse o japonês magrelo, rindo feito uma hiena manca, em seguida.

- Se estão geladas ou não eu não sei, só abrindo pra ver. Mas se abrir e as pizzas não forem suas, vai ter de ficar com elas mesmo assim. Normas da casa.

- E é? Tá, confere então o pedido, mais fácil. Meia de pneu e pára-lama. Outra inteira de guidão. Garantiu o japonês, do movimento das bicicletas em favor de uma cidade menos automobilizada.

- Olha só, tem nada disso aqui não. Terceira vez que isso acontece. Deixa eu conferir o local de entrega pra ver se era aqui mesmo que eu deveria estar.

O entregador revirou um bolso microscópico dentro de sua mochila quadrada, a fim de encontrar o canhoto do pedido com o endereço de entrega. Pronto.

- Avenida Salvador Allende, 6555. Correto? Aqui não é a tal da Rio +20? Onde serão realizados os diálogos para o desenvolvimento sustentável?

- É, é aqui mesmo. Mas só o endereço, porque o lance de diálogo rolou pra caramba, promessas à rodo, metas à míngua, e de sustentável por enquanto só os copos descartáveis.  Vai uma água aí?

- Não, não. Bom, já que estou de bobeira aqui, vou dar outro rolê, se não encontrar o dono dessa pizza, parto de volta pra cozinha, deve ter uma tonelada de pedidos me aguardando.

O entregador foi então rodando pela Riocentro, de um canto a outro, no intuito de cumprir com o seu objetivo principal, efetuar com total presteza a solicitação. Aqui, ali, lá e acolá, sujeito bom de caminhada, acabou adentrando uma sala cheia de mais um bando de gente. Superpopulação, pensou. Prosseguiu timidamente e, na base da esperteza que lhe é de costume, pegou o microfone e proferiu as seguintes palavras:

- Eu não tô pra brincadeira! De quem é essa porra dessas duas pizzas? Interferiu, solenemente.

- Meu nobre confrade, pizza de quê? Averiguou o homem do terno mais alinhado da história dos ternos super bem alinhados. Senhor Ban Ki Moon.

- Uma de descrença, outra de nariz de palhaço. Argumentou o pobre rapaz.

- Era pra nós mesmo, mas não vamos ficar com ela não. Faz o seguinte então, pica bem picadinha essas duas pizzas e manda servir lá no saguão, tem bastante gente pra se servir desta refeição.

O entregador, agora, dispunha de duas opções. Ou mandava faca na pizza e cumpria com a sua tarefa subseqüente, ou, partia pra ignorância. Vontade de fincar a faca nos alinhadinhos da porra da cúpula não lhe faltava.

- A hora é agora. Bravo e retumbante, pensou o da mochila quadrada.

Botou as pizzas no chão e disse "NÃO, chega dessa enganação", arriou as calças e bem como um canhão, olhou pra cara dos pingüins ali, de plantão, e deu um belo dum cagão.

- Merda pra vocês... E pau no cu do gato.

Subiu as calças e saiu pela mesma porta por onde entrou. Já do lado de fora, espiou abismado, pelo vidro em forma de círculo, como todo mundo gosta. Um monte de Zegnas, Chanéis e Armanis, sorrateiramente, comendo bosta. 

Yoko Mama





















Ela vem e me oferece um trago de absinto,
Terror no balcão do quinto dos infernos.

A maldita poção do capeta desce rasgando...
Forte demais para o meu estômago humano...

Daí que eu vi...

Tenso que é... bebericar em copo de quenga...

Japa quenga. 
Diretamente de Yokohama.

Mama Yoko, mama.